Alguns
setores apostaram em suas utopias, outros, mais pragmáticos, agiram movidos por
interesses bem objetivos, apenas emoldurados por um discurso.
Em
artigo publicado na imprensa, Mendes Fradique, um humorista muito popular nos
anos 20, brincava com a tradição pessimista brasileira de considerar que o país
estava sempre à beira do abismo. Segundo ele, esse diagnóstico levou a várias
tentativas de mudança, das quais as mais profundas se relacionaram com a troca
de regime: de colônia para monarquia independente e de monarquia para
República. No entanto, a República, que durante o Império foi tida como a
solução para os problemas do país, depois de proclamada provocou a frase de um
dos seus mais antigos defensores, Saldanha Marinho: “Essa não é a República dos
meus sonhos”.
De
fato, por trás da mudança pela qual se empenharam os mais idealistas,
agitavam-se os mesmos velhos interesses do grande capital fundiário e
exportador de café. Era a economia que ditava a mudança. E os ideais de civis e
militares foram o combustível para que o movimento deslanchasse em 15 de
novembro de 1889.
Outro
ideal quase sempre associado ao sonho republicano, a federação, também se
realizou com a proclamação da República. No entanto, um de seus maiores
defensores, Rui Barbosa, poderia imitar Saldanha Marinho, dizendo: “Este não é
federalismo dos meus sonhos”. Pois o sistema que, rompendo a tradição
centralista da monarquia, deveria ser fator de progresso para as províncias,
propiciou o abandono das regiões pobres do país ao poder discrionário de
coronéis.
Fonte: Drª Isabel Lustosa é doutora em ciência política pelo Iuperj e pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa.
(...)
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