"A
leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo."
Joseph
Addison
"Muitos
homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um
livro." Henry Thoreau
Pesquisa aponta que brasileiro reconhece importância da leitura, mas prefere outras atividades.
O
brasileiro sabe da importância da leitura para progredir na vida, mas continua
considerando a atividade desinteressante. Este é o principal diagnóstico da
pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta semana pelo Instituto
Pró-Livro. Foram entrevistadas mais de cinco mil pessoas em 315 municípios e os
resultados apontam que apenas metade delas pode ser considerada leitora. O
critério é ter lido pelo menos um livro nos últimos três meses.
Entre
os participantes, 64% concordaram totalmente com a afirmação “ler bastante pode
fazer uma pessoa vencer na vida e melhorar sua situação econômica”. Mas 30%
disseram que não gostam de ler, 37% gostam um pouco e 25% gostam muito. Entre
os não leitores, a principal razão para não ter lido nos últimos meses é a
“falta de tempo”, apontada por 53% dos entrevistados. No topo da lista aparecem
também justificativas como “não gosto de ler” (30%) ou “prefiro outras
atividades” (21%).
A
professora Vera Aguiar, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUC-RS), explicou que a falta de hábito de leitura no país é cultural.
“Nossa cultura é muito oral. Se a gente pensa na religião, nas festas como o
carnaval ou nos esportes como o futebol, percebe que o brasileiro prefere
atividades exteriores que envolvam muitas pessoas”, aponta a pesquisadora da
Faculdade de Letras da PUC-RS.
Vera
defende que mesmo sendo uma questão cultural, é possível mudar o quadro com
ações de incentivo à leitura. Ela acredita que nas últimas décadas houve um
incremento grande de programas voltados para o estímulo da leitura, mas as
iniciativas ainda não tiveram o efeito esperado. “Há várias iniciativas de
vários setores da sociedade – governos municipais, estaduais e federal, ONGs
[organizações não governamentais], universidades – mas mesmo assim é pouco.
Essas ações precisam ser mais articuladas”.
Para
Maria Antonieta Cunha, professora da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e diretora do programa do Livro Leitura e Literatura do Ministério da
Cultura, o brasileiro associa a leitura à obrigação e não ao prazer. Um trecho
do estudo que evidencia essa tese são as respostas dos entrevistados à pergunta
“qual é o significado da leitura para você”. Mais de 60%, acham que ler uma
“fonte de conhecimento para a vida”, “fonte de conhecimento para atualização
profissional” (41%) e “fonte de conhecimento para a escola” (35%). Para a
professora, os resultados indicam que a maioria das pessoas não associa
diretamente a leitura a uma atividade de lazer.
“A
questão é que nós não temos a leitura como um valor social. A pessoa não
conseguiu descobrir que a leitura trabalha, mais do que tudo, com a
transcendência, que é o grande item do ser humano. É aquilo que diz Fernando
Pessoa: a literatura é uma confissão de que a vida não basta”, disse Maria
Antonieta durante o lançamento da pesquisa.
O
estudo também demonstra que o hábito da leitura está conectado com a frequência
à escola. Entre os que estudam estão apenas 16% do total da população de não
leitores. Mesmo entre aqueles considerados leitores, a média de obras lidas é
1,4 para quem não está estudando ante 3,4 para quem estuda (considerando os
últimos três meses). “Que escola é essa que nós temos que não consegue
desenvolver leitores para a vida inteira?”, pergunta Maria Antonieta.
A
representante do Ministério da Cultura defende que as escolas e as bibliotecas,
apontadas como um local desinteressante pelos entrevistados, precisam ter bons
mediadores de leitura. “São professores verdadeiramente capazes de fazer o
olhinho do aluno brilhar ao ouvir uma história. Para isso o próprio professor
precisa ser um apaixonado pela leitura”.
Fonte: Amanda Cieglinski da Agência Brasil, em Brasília.
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