A Força da Vontade Tudo
vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na
sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para
cumprir a missão que a si próprio se impôs. Atento ao mundo exterior, para que
não falte nenhuma oportunidade de pôr em prática o pensamento que o anima, não
deixa que ele o distraia da tensão interna que lhe há-de dar a vitória; tem os
dotes do político e os dotes do artista, quer modelar o mundo segundo o esquema
que ideou.
Não se trata, claro, de um triunfo pessoal; em
história da cultura não há triunfos pessoais; ou a vontade é pura e generosa,
nitidamente orientada ao bem geral, ou mais cedo, mais tarde, se há-de quebrar
contra vontades de progresso mais fortes que ela. Que o querer tenha sua origem
e seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justiça; de outro modo é
apenas gume fino e duro de faca; por isso mesmo frágil, na sua aparente
penetração e resistência. Vontade inteligente, e não manhosa, altruísta, e não
virada ao sujeito, pedagógica, e não sedenta de domínio; a esta pertencem os
séculos por vir: é a voz a que surgem; a outra estabelece os muros que ainda
tentam defender o passado.
Livro de Agostinho da Silva, in
'Considerações'
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