A
raiz e a origem dos sentimentos de honra e vergonha, inerentes a todo o homem
que não é totalmente corrompido, e o supremo valor atribuído ao primeiro reside
no que vem a seguir. O homem, por si só, consegue muito pouco e é um Robinson
abandonado: apenas em comunidade com os outros ele é e consegue muito. Ele
dá-se conta de tal situação a partir do momento em que a sua consciência
começa, de algum modo, a desenvolver-se, e logo que nasce nele a aspiração por
ser considerado um membro útil da sociedade, portanto, alguém capaz de cooperar
como homem pleno e, por conseguinte, tendo o direito de participar das
vantagens da comunidade humana. Ele consegue-o realizando, em primeiro lugar,
aquilo que se exige e espera em geral de cada um, depois, realizando aquilo que
se exige e espera dele na posição especial que ocupa. Mas logo ele reconhece
que, nesse caso, o importante não é o que ele representa na sua própria
opinião, mas na opinião dos outros.
Por
conseguinte, tal é a origem da sua aspiração zelosa pela opinião favorável de
outrem, e assim também surge o valor supremo nela depositada. Esses dois
elementos aparecem na espontaneidade de um sentimento inato, chamado sentimento
de honra e, de acordo com as circunstâncias, sentimento de pudor. É este que
ruboriza as suas faces quando acredita ter subitamente perdido na opinião dos
outros, mesmo sabendo-se inocente, e inclusive onde a falta apontada concerne
apenas a uma obrigação relativa, ou seja, assumida arbitrariamente. Por outro
lado, nada fortifica mais o seu ânimo de vida do que a certeza alcançada ou
renovada da opinião favorável dos outros, porque ela lhe promete a proteção e a
ajuda das forças reunidas do conjunto, que são uma muralha infinitamente maior
contra os males da vida do que as suas próprias forças.
Arthur
Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
(...)
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