Os personagens Carminha
(Adriana Esteves), Tufão e (Murilo Benício), Nina (Débora Fallabela) são os
nomes mais famosos do Brasil, pelo menos, enquanto estiver no ar à novela
"Avenida Brasil" (Rede Globo).
Parte do entretenimento
brasileiro, as telenovelas atingem a todas as classes, sem discriminação.
Enredo previsível, situações inimagináveis na vida real, personagens sofríveis
vividos por "pseudoatores".
A pergunta que me faço a
cada vez que leio algo sobre a audiência dessa forma de "cultura" é
simples: em que momento o Brasil "emburreceu"? Em que momento
deixamos de ler? São perguntas para as quais não há respostas.
Personagens estereotipadas,
como a Carminha, que devoram o bom senso e a capacidade de percepção do cidadão
médio, são algozes necessários para que a apatia da mocinha que só chora não dê
azo à perda de patrocinadores de peso do horário nobre.
Uma vez ouvi de um diretor
de teatro que "a história é feita de estórias e é disso que vivem a arte e
o público". Arte? Tufão é arte? Nina ou Rita são arte? Um dia achei que
arte de verdade era composta por personagens mais encorpados como Lucíola,
Hamlet, Dom Quixote, mas Tufão?
Enfim, vivendo e aprendendo.
Aprendendo? O que é que a trama vivida por Nina e Carminha realmente pode
ensinar a esse povo tão carente de livros e de personagens de verdade? Golpes?
Maldades? Traição? Grosseria? Vingança? Espera lá... Mas e a cultura popular?
Não seria essa uma das funções do entretenimento que mais alavanca dinheiro
para a "casa de cultura" chamada Rede Globo.
Os pais modernos controlam o
conteúdo que os filhos podem ou não visitar nos sítios virtuais, mas continuam
ausentes quando o assunto é a novela das "oito". E as literaturas
brasileira e mundial morreram?
Onde é que estão os nossos
heróis imaginários, que no passado povoaram nossas mentes e que foram
referência para conquistas outras que não a ajuda financeira ao Max (Marcello
Novaes), amante da Carminha e pai do Jorginho (Cauã Reymond)?
Será mesmo que nós
"emburrecemos"? Séculos depois de sua criação, Romeu ainda é
referência do amor eterno, da devoção e da capacidade de se perder de amor. A
Julieta, e sempre Julieta, jurada de amor eterno! Será que dois meses depois
que essa "pérola" chamada "Avenida Brasil" sair do ar nos
lembraremos de quem foi Leleco (Marcos Caruso) na trama que ajudou a
"emburrecer" ainda mais o nosso povo?
Provavelmente não, assim
como não nos lembramos de "Fina Estampa" (Globo, 2011), de Aguinaldo
Silva, e outras tantas que em nada contribuíram para a cultura nacional!
Mas tudo bem. Qualquer dia
desses, em um domingo daqueles bem chatos, ligaremos a televisão depois do
futebol e o Faustão anunciará mais um "monstro sagrado da televisão
brasileira"! De repente, surgirá mais um ator realmente acreditando que
fez história. Por quinze ou trinta minutos, ele viverá a fantasia de que
pertence ao mesmo mundo que Meryl Streep e Dustin Hoffman!
A cereja do bolo é quando o
Faustão coloca alguns depoimentos tristes e eles terminam chorando. Eles fazem
telenovela e fingem que são atores. E a gente aqui, acreditando!
Adeus William Shakespeare,
adeus Montecchios e Capuletos, adeus Camilo Castelo Branco, adeus literatura de
verdade. Arte agora é a que fazemos lá no bairro do Divino, bairro do Tufão, da
Carminha e da Zezé.
E viva a cultura! Em tempo:
não, nós não "emburrecemos", nós somos imbecis!
Fonte: Opinião do Leitor da
Folha de S.Paulo, Sílvio Dolce (Londrina-PR). Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/1124491-para-leitor-novela-avenida-brasil-emburrece-o-cidadao.shtml
(...)
2 comentários:
Descobri este blog por acaso e o achei muito criativo, com textos bem escritos (o que inclui o português) e postagens legais.Não sei quem o escreve, mas quero enviar os parabéns ao seu autor!!
Boa noite Srº ou Srª Anônimo.
Desde já meus gratos obrigados pela visita ao nosso Blog.
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