Para ler essa crônica, peço que desligue sua mente e ouça as cores dos seus sonhos. Não é preciso estar consciente para desfrutar dos benefícios dessa aventura. Se você assim o fez. Entre, aperte seus cintos e tenha uma boa viagem ao fantástico mundo onde viajar sem sair do lugar é possível e viver é mais fácil com os olhos fechados.
Por Bruno Coriolano de Almeida Costa
Lembro-me das minhas primeiras investidas para entender um mundo, que imaginava eu, existir naquelas páginas brancas e sem graça e que continham símbolos até então indecifráveis para mim. Curioso, eu passava horas tentando entender a razão de grudar os olhos naqueles livros sem perceber que o tempo passava cruelmente e sem avisar que já haviam passado séculos.
Esse mundo que falo é a leitura.
Tão fascinante e curioso quanto o universo dos números, ler sempre me chamou a
atenção pelo seu caráter sublime e (in) imaginável. Sempre tentei entender a
lógica existente por traz de todas aquelas frases que via nos livros, jornais e
revistas. Assim como Alice (personagem de Lewis Carroll), me questionava em
relação à falta de gravuras ou desenhos. Ora, como pode alguém fixar seus olhos
em um livro sem gravuras? Que graça tem?
Muitos anos se passaram e
quando dei por mim, já era um leitor compulsivo. Não aconteceu da noite para o
dia, mas nem percebi quanto tempo já havia passado. Antes era um curioso que
queria saber de que se tratava aquele conjunto de símbolos, palavras e frases
espalhadas nas páginas dos livros que via sobre as prateleiras das escolas e
bibliotecas que sempre frequentei. Hoje sou um curioso que procura entender a
mesma coisa. Puxa, será que nada mudou daquele mundo? Às vezes ainda me
pergunto a mesma coisa.
Tudo tem começo na
curiosidade. Todas as pessoas sentem a necessidade de encontrar explicação para
suas perguntas e eu não sou diferente. Comecei querendo descobrir o sentido da
leitura e acredito ter encontrado muito mais, muito mais mesmo, pois foi
através dela que descobri encontrei outro mundo. Foi por meio dela que o real
passou a fazer sentindo – paradoxalmente, a partir da ficção.
Foi por meio da leitura, por
meio da literatura, que descobri que poderia viajar sem sair do lugar, conhecer
pessoas de todas as épocas, idades, lugares, caráteres e lugares sem ser
machucado ou precisar falar suas línguas; pude conhecer a história da
humanidade mais profundamente. Também foi por meio desta que depurei minha
sensibilidade para bem usufruir das boas coisas existentes no mundo exterior.
Conheci os picos da Patagônia, os mares da polinésia, os museus da Europa e dos
Estados Unidos; amigos que nunca nem vi. Descobri com a experiência dos antigos
como viver nos dias atuais.
Por meio das minhas viagens
proporcionadas por essa fantástica ferramenta, fui até ao centro da Terra e mergulhei
vinte mil léguas submarinas. Perdi-me em uma ilha onde conheci Robinson Crusoé
e Sexta feira. Cacei ferozmente uma baleia gingante chamada Moby Dick, depois
de percorrer os sertões, subi ao Morro dos Ventos Uivantes, conheci o Conde
Drácula de perto, passei de forma rápida pelo céu, purgatório e inferno de
Dante; dancei com a dama das camélias quando estive na França, mergulhei no
Maëlstrom depois de escalar as montanhas escabrosas com Edgar Allan Poe e vi o
gato preto que estava a brincar com o corvo. Enfrentei gigantes com Homero.
Percorri mundos inimagináveis com Gulliver durante suas viagens; contemplei o
retrato de Dorian Grey na presença de Oscar Wilde, enfrentei o cardeal
Richelieu juntamente com os três mosqueteiros. Eu vivi inúmeras vidas que não
só a minha, e amadureci rapidamente sem nem ao menos um único fio de cabelo meu
ficar branco.
Agrada-me o desafio
intelectual, e esse é um dos mais ricos. Enquanto muitos tentam obter fama,
poder e riqueza. Prefiro me deleitar na imensa vastidão desse mundo fantástico.
Impressiona-me a capacidade não verbal de expressão e o poder de persuasão de
pessoas únicas. Fico admirado com os poetas, contistas, romancistas, ensaístas
e agora cronistas que ousam mostrar aos deuses outras formas de criação. As
grandes obras literárias serão sempre inesgotáveis fontes de conhecimento, de
prazer e vida. Trarão sempre mais sentido as coisas já existentes e continuarão
a criar outras novas.
(...)
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