"O
Chefe", livro do jornalista Ivo Patarra, é um flagrante da corrupção
política na era Lula. As 457 páginas retratam uma triste realidade, que marcará
toda uma geração. É resultado de cinco anos de pesquisa.
A
obra traz os inquéritos, relatórios, sindicâncias, investigações e reportagens
que escandalizaram o Brasil. Os documentos reproduzidos resumem o trabalho
desenvolvido pelo Ministério Público, Polícia Federal, Comissões Parlamentares
de Inquérito, Congresso Nacional, Tribunal de Contas da União, Controladoria-Geral
da União, Tribunal Superior Eleitoral e principalmente as apurações conduzidas
por setores da imprensa, que contribuíram decisivamente para revelar detalhes
do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção governamental de que se tem
notícias no Brasil, em todos os tempos.
Capítulo
1
'O
governo Lula é o mais corrupto de nossa história'
Qual
a justificativa para o presidente da República nomear como ministro e
integrante de seu primeiro escalão de auxiliares o homem que publicara, num dos
jornais mais importantes do País, que ele, o presidente, era o chefe do governo
"mais corrupto de nossa história"?
Pois
Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, nomeou o filósofo Roberto Mangabeira Unger
no primeiro semestre de seu segundo mandato, em 2007, ministro da Secretaria de
Planejamento de Longo Prazo, especialmente constituída para abrigá-lo. E não
adiantou nem o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
inviabilizá-la tempos depois, durante uma rebelião para obter mais cargos no governo
e proteção para o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o então presidente do
Senado, acusado de corrupção. Apesar de o PMDB derrotar a Medida Provisória que
criara o posto para Roberto Mangabeira Unger, Lula deu um jeito na situação,
nomeando-o novamente, desta vez como ministro extraordinário de Assuntos
Estratégicos. A posição do detrator estava garantida.
"Pôr
fim ao governo Lula" é o título do artigo de Roberto Mangabeira Unger
publicado na Folha de S.Paulo em 15 de novembro de 2005, no sugestivo dia da
Proclamação da República. O ano de 2005 havia sido marcado pela eclosão do
escândalo do mensalão. Este é o parágrafo de abertura do artigo:
"Afirmo
que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção
tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da
Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos
políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se
contrapor a seus desmandos."
O
que poderia ter levado o presidente da República a nomear como ministro o autor
dessas acusações? E Roberto Mangabeira Unger não estava brincado, a julgar pela
defesa que fez do impeachment de Lula. Ao denunciar "a gravidade dos
crimes de responsabilidade" supostamente cometidos pelo presidente, o
então futuro ministro afirmou em seu artigo que Lula "comandou, com um
olho fechado e outro aberto, um aparato político que trocou dinheiro por poder
e poder por dinheiro e que depois tentou comprar, com a liberação de recursos
orçamentários, apoio para interromper a investigação de seus abusos".
Alguém
poderia argumentar que a nomeação de Roberto Mangabeira Unger seria um mal
necessário. Coisa da política. E tentar explicá-la pela importância do
filósofo, um professor da prestigiada Universidade de Harvard, das mais
importantes dos Estados Unidos, por quase 40 anos. O Brasil, portanto, não
poderia prescindir da experiência e do prestígio de Roberto Mangabeira Unger,
que teria muito a contribuir com o País.
Será
mesmo? A cerimônia de posse do filósofo não demonstrou isso. Poucos ministros,
cadeiras vazias, menos de uma hora de solenidade. E mesmo antes da criticada
viagem de Roberto Mangabeira Unger à Amazônia, em 2008, na qual defendeu o
desvio de águas da região para abastecer o Nordeste, sem considerar que
centenas de milhares de amazonenses ainda não dispunham de água encanada, o
ministro já era considerado, em âmbito do governo, "café-com-leite".
Ou seja, não lhe era atribuída importância, nem de seu trabalho haveria algo
para se aproveitar.
Outro
trecho do artigo de Roberto Mangabeira Unger: "Afirmo ser obrigação do
Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. As provas
acumuladas de seu envolvimento em crimes de responsabilidade podem ainda não
bastar para assegurar sua condenação em juízo. Já são, porém, mais do que
suficientes para atender ao critério constitucional do impedimento. Desde o
primeiro dia de seu mandato o presidente desrespeitou as instituições
republicanas. Imiscuiu-se e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em
disputas e negócios privados".
Talvez,
então, a razão para a nomeação de Roberto Mangabeira Unger tenha sido de ordem
político-partidária. Ou seja, o filósofo traria para o governo a base social
representada por seu partido, ampliando o número de legendas que davam
sustentação à administração Lula no Congresso. Como vimos, no entanto, Roberto
Mangabeira Unger passou a maior parte da vida nos Estados Unidos, o que o forte
sotaque não deixava desmentir. Não possuía qualquer base social, nem traria
consigo qualquer força orgânica da sociedade.
Quanto
a seu partido, o minúsculo PRB (Partido Republicano Brasileiro) tinha menos de
8 mil filiados quando Roberto Mangabeira Unger se tornou ministro e era um dos
menores partidos políticos do País. Não agregava praticamente nada à base
aliada de Lula. Por apoio político-partidário não faria sentido nomear Roberto
Mangabeira Unger. Afinal, o PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus,
possuía apenas três deputados federais, um senador e o vice-presidente da
República, José Alencar (MG), que saíra do PL (Partido Liberal) em decorrência
do escândalo do mensalão e foi o grande incentivador da nomeação do filósofo.
Em
outro trecho do famoso artigo, Roberto Mangabeira Unger afirmou que "Lula
fraudou a vontade dos brasileiros", ameaçava a democracia "com o
veneno do cinismo" e tinha um projeto de governo que "impôs
mediocridade". E mais: "Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e
ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe traga
dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância, mostrou-se
inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe confiou".
Para
fazer a vontade de seu vice José Alencar, um homem leal e doente, Lula só
precisaria ter dito que gostaria muito de nomear alguém indicado por ele, mas
não poderia ser o homem que o acusara de chefiar o governo mais corrupto da
história. Poderia ser qualquer um, menos aquele que conclamara o Congresso a
derrubá-lo da Presidência da República, por corrupção. Por que Lula nomeou
Roberto Mangabeira Unger, autor de acusação tão séria? Nas páginas deste livro,
o leitor será convidado a encontrar a resposta.
***O livro encontra-se totalmente disponível no site: http://www.escandalodomensalao.com.br/. São 21 capítulos com Download disponibilizados para impressão.
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